Fernando Machado é um dos profissionais da área mais influentes do mundo, com passagens pela Unilever, Restaurant Brands International e Activision Blizzard
Quando o então estudante de engenharia mecânica da Unicamp Fernando Machado começou a estagiar em uma fábrica da Unilever em Indaiatuba, nunca tinha ouvido falar em marketing. Hoje, depois de uma carreira de quase 25 anos na área, 18 deles na Unilever, e passagens pela direção da Restaurant Brands International, dona do Burger King e Popeyes, e da gigante de games Activision Blizzard, o executivo assume como CMO global da NotCo, foodtech chilena plant-based que usa uma inteligência artificial exclusiva. “Fiquei muito com a oportunidade de unir IA, pesquisa e criatividade.”
Único brasileiro na lista dos CMOs mais influentes do mundo da Forbes USA, Machado observa o movimento de muitos profissionais da cadeira de marketing para a de CEO como algo natural pela abrangência das funções. “O CMO hoje pode e deve ser o braço direito do CEO.”
Em entrevista à Forbes, o novo CMO global da NotCo, responsável pelo marketing da empresa em 10 países, como Argentina e EUA, diz o que é preciso, em termos de formação e habilidades, para ser executivo nessa área. “O mais importante é ter uma boa formação e tentar encontrar um balanço entre a parte analítica e a parte criativa.”
Fernando Machado: A engenharia me ajudou a ter facilidade com números e um modelo mental para estruturar e resolver problemas. Acabei fazendo um MBA (no INSEAD) e isso também me ajudou. Não sinto que você precisa fazer faculdade de marketing para trabalhar com marketing, mas com certeza ajuda. O mais importante é ter uma boa formação e tentar encontrar um balanço entre a parte analítica e a parte criativa. Isso pode vir de uma formação específica de marketing ou não.
FM:
FM: Depende do cargo e da função. Mas sempre busco pelo menos um certo nível de criatividade, ambição e vontade de aprender. Tento ter gente em torno de mim que traga energia para a mesa, gente que seja do bem e que goste de solucionar problemas. Gente que só reclama, que sempre coloca a culpa nos outros ou que tem um ar de arrogância acabam não durando muito nos meus times.
FM: Eu sempre vi as marcas como o ativo mais importante das empresas. Digo, as marcas e as pessoas. Logo, acho natural que CMOs possam fazer uma transição natural para um cargo de CEO em algumas empresas. Sinto que o cargo de CMO hoje é muito mais abrangente do que era quando comecei minha carreira. Inovação de produto, pesquisa de mercado, mídia, digital, criação, design, entre outros sempre foram parte das responsabilidades de um CMO (com algumas variações dependendo da empresa). Mas os CMOs que eu mais admiro não param por aí, eles e elas se envolvem com ESG, diversidade, cultura da empresa, entre outros. O CMO hoje pode e deve ser o braço direito do CEO. E quando isso acontece, sinto que pode ser uma transição natural quando um CMO acaba sendo promovido/a para um cargo de CEO.
FM: Um dos benefícios é que quando eu estava no meu MBA meu apelido era “Unilever” (de verdade!). Brincadeiras à parte, acho que minha experiência na Unilever foi algo muito específico. Nunca senti que estava lá por muito tempo. Mudei de categorias de produto e de países muitas vezes. Morei no Brasil, México, Estados Unidos e Inglaterra. Sempre tive mentores e desafios que me fizeram aprender constantemente. Sempre senti que estava crescendo e aprendendo. Acho que isso sim é o mais importante para a sua carreira, independentemente se você faz isso em uma empresa ou em diferentes empresas.
FM: Eu sempre quis ter um cargo global em marketing. Sempre fui curioso sobre as diferenças entre os consumidores e em como as categorias de produto são desenvolvidas em diferentes países. Foi um caminho longo até ter cargos globais. Comecei com marcas no Brasil, depois marcas pequenas na América Latina, depois marcas maiores na América Latina até chegar numa marca relativamente pequena global. A Unilever me preparou muito bem nessa jornada.
FM: Provavelmente algo em torno de ter mais paciência. E eu provavelmente não teria escutado porque não tinha muita paciência. A verdade é que sua carreira não é uma corrida de 100 metros. Algumas vezes você vai estar na frente, outras vai estar atrás. Eu me comparava muito com outras pessoas. E isso não leva a nada e não te ajuda em nada. Cada qual está no seu caminho. Se você quer se comparar com alguém, se compare com você no ano anterior. Mas com certeza é mais fácil falar isso do que fazer. Hoje tenho quase 50 anos e sinto que consigo fazer isso. Mas me custou um tempo.
Por quais empresas passou
Unilever, Restaurant Brands International e Activision Blizzard
Formação
Engenharia mecânica na Unicamp e MBA no INSEAD (Instituto Europeu de Administração de Empresas)
Primeiro emprego
Estagiário na Unilever
Primeiro cargo de liderança
Em torno de 2001, como gerente de produtos para limpeza da casa para América Latina na Unilever
Tempo de carreira
Cerca de 25 anos