Pesquisa realizada pelo Sebrae, com apoio da Prefeitura de Porto Alegre, traz um raio-X dos empreendedores e de seus empreendimentos em cinco áreas periféricas de Porto Alegre. O levantamento quantitativo presencial ouviu 1.033 empreendedores locais dos seguintes bairros: Morro da Cruz, Restinga, Vila Planetário, Bom Jesus e Vila Cruzeiro. O trabalho foi feito de 12 de janeiro a 7 de fevereiro de 2023 e foram entrevistados entre 202 e 210 pessoas de cada região.
Secretário municipal de Inovação, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, ressalta que trata-se de um levantamento inédito e profundo. “Essas informações são valiosas para que possamos desenhar futuras ações de relevância e impacto. A pesquisa faz de Porto Alegre a cidade com os melhores e mais completos dados para assegurar que a inovação e o empreendedorismo, ao invés de ficarem em bolhas, se estendam como um cobertor que atinja todo nosso território. Reiteradamente, o prefeito Sebastião Melo tem dito que as oportunidades e benefícios da inovação devem chegar em todos os cantos e setores de Porto Alegre”, afirma Pinto.
As perguntas foram aplicadas em pontos de fluxo, a partir de abordagem aleatória de pessoas em pontos movimentados das comunidades. A apuração mostrou que a maioria dos empreendedores nesses locais é formada por homens negros, de baixa renda, acima de 30 anos e que estudaram até o Ensino Fundamental.
O levantamento indicou que 65% são homens e 35%, mulheres. Do total, 64% são negros. Sobre a idade desses empreendedores, 45% deles têm 46 anos ou mais, 38% têm entre 30 e 45 anos, e 17% têm de 18 a 29 anos.
Do público entrevistado, 76% correspondem a integrantes das classes C, D e E. Em relação ao grau de instrução, 53% têm Ensino Fundamental, 37% têm Ensino Médio e 10% têm Ensino Superior.
A pesquisa também apontou que a relação deles com os territórios onde atuam é positiva. São nesses locais, por exemplo, que esses empreendedores estabelecem a maior parte de suas relações. Sejam elas afetivas, sociais ou de trabalho. Além disso, 99% deles têm negócios e trabalham por conta própria na comunidade em que vivem.
A motivação para a maioria abrir o negócio foi a questão da oportunidade (56%). Entre os empreendedores com menores renda e escolaridade, a necessidade foi citada como principal motivadora.
Outro dado indicou que há certa estabilidade na atuação dos empreendedores, já que 52% trabalham por conta própria ou têm o negócio há cinco anos ou mais, enquanto 48% estão estabelecidos de dois a cinco anos ou há menos de dois anos.
Sobre as atividades exercidas, o levantamento apontou que a principal ligada ao Comércio é Alimentação e Bebidas (36%). Na área de Serviços, Beleza e Cosméticos tem o maior percentual: 28%. No setor de Produção e Comercialização de Itens Artesanais, Alimentação e Bebidas lidera com 55% dos negócios.
Dependência – Segundo os dados apurados, os empreendimentos são cruciais para o orçamento doméstico da maioria dos empreendedores. Para 92% deles, o faturamento representa pelo menos metade de toda a renda domiciliar. Já para 42%, o faturamento representa toda a renda da casa. Para 8%, o faturamento representa menos da metade da renda do lar.
Estrutura – Ao mesmo tempo, os negócios carecem de maior estruturação, apurou a pesquisa. Menos da metade dos empreendedores (48%) têm espaço próprio para seu negócio. E 3 em cada 10 empreendedores têm a própria casa como um dos locais de empreendimento.
Formalização – Em relação ao CNPJ, 66% dos empreendedores responderam que não têm o cadastro de pessoa jurídica. E, entre os 34% de empreendedores formalizados, o cadastro como Microempreendedor Individual (MEI) é o predominante (44% dos formalizados), seguido por microempresa (36%). Entre as principais razões apontadas para não ter CNPJ estão “custos e burocracias”.
Diante deste cenário, mesmo tendo um negócio, menos de 30% deles se enxergam como empresários. A maioria (71%) se auto classifica como “autônomo/trabalhador por conta própria”.
Entre as principais vantagens citadas para seguir nesta profissão estão o fato de ser “o próprio chefe”, seguida por flexibilidades de horários e ganhos. Por outro lado, a maioria cita como principal desvantagem do empreendedorismo o fato de não ter renda fixa, seguida da ausência de benefícios trabalhistas.
Internet – O levantamento também indicou que 80% dos empreendedores utilizam a internet para trabalhar. Celulares e smartphones são os dispositivos mais usados entre aqueles que acessam a internet. Porém, nove em cada 10 ainda divulgam seus negócios por “boca a boca”, ainda que 68% utilizam redes sociais para este fim, sendo o segundo meio de divulgação mais popular.
Crédito – A presença dos empreendedores em bancos também é uma realidade, já que nove em cada 10 possuem conta em alguma instituição financeira. Apesar disso, 17% têm conta enquanto pessoa jurídica, o que impacta, por exemplo, no acesso ao crédito e no controle financeiro.
Questionados, 37% dos empreendedores admitiram que já tentaram realizar um empréstimo/financiamento para o negócio, e 18% destes não tiveram sucesso. Empreendedores com negócios estabelecidos há menos de dois anos e sem CNPJ estão acima da média entre os que não conseguiram empréstimo.
A baixa utilização de contas bancárias específicas para os negócios também tem outros reflexos. Apenas três em cada 10 empreendedores separam totalmente o dinheiro para despesas do negócio e para despesas da casa, sendo que para 44% essa separação é parcial.
Capacitação – Em relação a formação técnica, 47% já realizaram cursos em suas áreas de atuação, mas apenas 22% realizaram cursos sobre gestão de negócios ou empreendedorismo.
Sobre as metas para os negócios, as principais envolvem expansão financeira, ampliação e diversificação do portfólio de produtos e serviços, aumento da cartela de clientes e construção/ampliação do espaço físico do negócio ou aquisição de novas ferramentas.
Demandas – Os empreendedores ainda citaram três eixos principais em relação a demandas que têm para expandir os negócios: estrutura (crédito, local adequado de trabalho e ferramentas de trabalho); capacitação (especialização no ramo de atuação); e informação (comunicação, divulgação do negócio online, e utilização da conta jurídica e precificação).
Uma comunidade de Pelotas também foi incluída na pesquisa, que ainda contou com os apoios da prefeitura do município do sul do Estado e do Sicredi.