Levantamento inédito analisou, entre janeiro e fevereiro de 2024, anúncios publicados em algumas das redes sociais mais acessadas pelos brasileiros. O foco do estudo foi a publicidade relacionada a mulheres.
Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com o Ministério das Mulheres mostrou que a falta de legislação sobre o conteúdo dos anúncios publicados em redes sociais tem gerado um ambiente inseguro para as mulheres.
É tentador e parece de verdade, mas é golpe. Anúncios prometem lucro rápido. Pele jovem e magreza em qualquer idade. Para conquistar a consumidora, os golpistas usam sem autorização imagens de pessoas famosas. Roubam a credibilidade de sites de notícias, como o g1, e de especialistas.
“Isso daí é verdadeiro mesmo? Esse é o Drauzio Varella falando mesmo?”, questiona uma mulher.
É a imagem dele, usada de forma fraudulenta. Os anúncios usam recursos tecnológicos e de inteligência artificial para tentar enganar. Nesses exemplos, os artistas e jornalistas retratados nunca fizeram as propagandas. Até o presidente da Anvisa, a Agência de Vigilância Sanitária, apareceu em um vídeo falso.
“Muita gente acredita, está postando no Instagram, está postando na internet. Estou falando que tem um médico falando, tem alguém falando que é bom”, diz uma outra mulher.
Um levantamento inédito do Laboratório de Estudos de Internet da Universidade Federal do Rio de Janeiro analisou, entre janeiro e fevereiro de 2024, anúncios publicados em algumas das redes sociais mais acessadas pelos brasileiros. O foco do estudo foi a publicidade relacionada a mulheres: 1.565 anúncios no Instagram e no Facebook apresentaram golpes, fraudes ou informações falsas.
Além do conteúdo sobre a aparência física e o corpo, outro tema chamou atenção: anúncios que promovem a misoginia, manifestações de ódio contra a mulher. Eles aparecem principalmente para homens com mais de 45 anos. Ajudam a disseminar o preconceito. Reforçam estereótipos machistas e tratam a mulher como objeto 44% dos anúncios pesquisados.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, disse que o governo quer mudanças na legislação para que as plataformas sejam responsabilizadas por este tipo de divulgação enganosa.
“Nós do governo queremos estar discutindo quais são as formas que nós podemos monitorar e acompanhar, mas também exigir das empresas que são responsáveis pelas redes que elas se responsabilizem de regular, de tirar e de não permitir”, diz.
A pesquisadora Marie de Santini, que coordenou o estudo, defende que esses anúncios que tentam enganar o consumidor sejam denunciados e retirados da rede pelas plataformas.
“As plataformas precisam ser responsabilizadas porque elas são os intermediários. A responsabilidade do intermediário é fundamental porque ele concentra o poder de identificar o anunciante e conhece o consumidor. Então, o intermediário é que pode impedir que a publicidade fraudulenta e os golpes se espalhem na internet”, afirma a diretora do NetLab/UFRJ.
Direcionam o usuário para vendas online de produtos e serviços 97% dos anúncios. Um comércio de desinformação, preconceito e violência contra a mulher.
“Tem grupos organizados na rede, grupos de homens machistas, que querem impedir o avanço de uma pauta feminista. Existe uma indústria preparada para fazer uma campanha para alavancar e aumentar o machismo na sociedade. Então, isso é realmente alarmante, porque a gente já tinha um problema histórico e agora a gente tem um grupo organizado que está envolvido com essa indústria da desinformação”, afirma a pesquisadora Marie de Santini.
A Meta, que controladora o Instagram e o Facebook, afirmou que está comprometida com a segurança das mulheres; que uma combinação de tecnologia e revisores humanos identifica conteúdos que violem as políticas da plataforma; e que trabalha para aprimorar a abordagem em defesa de um ambiente seguro para todos.