As redes sociais transformaram a maneira como nos comunicamos, compartilhamos informações e interagimos com o mundo. Mas de quem é a responsabilidade sobre analisar e criticar o uso e gestão destas plataformas?
Hoje muitos dos problemas sociais gerados ou ampliados pelas redes são tratados de formas pouco satisfatórias. As plataformas têm pouco ou nenhum incentivo para regularem seus conteúdos, já que possuem uma estratégia de “neutralidade” em relação a quem produz conteúdo, salvo algumas exceções.
Isso vem mudando, especialmente no Brasil, com o Marco Civil da Internet e as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) em combater a desinformação. Porém, é importante observar como somente a intervenção do Poder Público pressiona as plataformas a solucionar estes problemas. Quais são os males que assolam as redes hoje e quem deveria ter mais voz em tratar estes problemas?
As discussões sobre o que é a Verdade – sim, aquela com letra maiúscula – assolam os debates filosóficos desde a Antiguidade. Alguns dizem que um ideal do que é “verdadeiro” é uma questão de ponto de vista, outros já são mais deterministas em assumir que Verdade é um valor ético inalterável e existe uma definição moral clara entre certo e errado, verdadeiro e falso. O problema agora é que estas questões saíram do mundo acadêmico e passaram a ser de ordem comum na internet, com várias pessoas discutindo se algo é “verdadeiro”, “falso”, “enviesado” ou “neutro” etc.
Além disso, o mau uso de canais de comunicação pública também não é nada novo, já que a proliferação de boatos e informações falsas para fins pessoais acontecem desde o começo da imprensa. Mas no ambiente digital esses debates sobre verdade e a criação de informações falsas ficam evidentes com o fenômeno das fake news. Jornalistas devem se preocupar agora não só com a veracidade das fontes, mas também em combater ativamente uma enxurrada de conteúdos criados estrategicamente para espalhar desinformação.
Como isso está sendo combatido? Diversos países estão recorreram ao Poder Público para criar regulamentações, responsabilizando os gestores das redes pelos conteúdos que patrocinam. Porém, a palavra que o público das redes prefere ouvir são dos patrocinadores, marketeiros e influencers, aqueles que lucram, independentemente de um conteúdo ser verídico ou não.
A inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente na moderação de conteúdo e na personalização das redes sociais. Embora a IA possa ser uma ferramenta poderosa, ela também pode perpetuar preconceitos e espalhar informações desatualizadas. Algoritmos de IA, na maior parte das vezes, reforçam vieses existentes, amplificando conteúdo sensacionalista ou polarizador para maximizar o engajamento dos usuários. Como por exemplo, a IA de recrutamento da Amazon que foi criada com viés misógino, ou o chat de IA da Microsoft que foi manipulado para ter respostas racistas 1 dia após seu funcionamento.
Esses vieses são claros para a maioria das pessoas, mas as IAs, sendo ferramentas sem componente moral ou humano, apenas reproduzem o que recebem. Por isso, especialistas em ética tecnológica e direito da tecnologia devem acompanhar o desenvolvimento e a implementação dessas ferramentas para garantir seu uso justo e responsável. Especialistas e usuários das redes precisam entender como esses algoritmos operam e assumir a responsabilidade por suas consequências.
As redes sociais são ferramentas poderosas que moldam nossa sociedade de maneiras profundas e complexas. A discussão sobre ética nessas plataformas não deve se limitar a marketeiros, influenciadores ou gestores das redes, mais focados em engajamento e lucro do que em responsabilidade social.
Jornalistas, advogados, cientistas políticos, engenheiros de tecnologia e a sociedade civil devem liderar o debate, usando suas habilidades técnicas para garantir o uso ético e responsável das redes sociais. Assim, podemos reduzir os riscos das fake news, da IA descontrolada e do uso indevido das plataformas, criando um ambiente digital seguro e confiável. A colaboração entre especialistas e o público é essencial para um futuro digital ético, onde as redes sociais contribuem positivamente para a sociedade, evitando retrocessos.