Donos de pequenos negócios ouvidos pelo g1 relatam experiências em que visibilidade deu retorno financeiro quando acertaram o perfil do parceiro.
“Oi, vi que você fez a decoração de fulano, quero um orçamento.” Essa é uma mensagem que a decoradora Milane Veras relata receber diariamente. A empreendedora destaca ter bons resultados ao fechar parcerias com influenciadores digitais, mas alerta: “Nem todos trazem esses retornos”.
Já Suzana Stevens, proprietária da Amagali Pousada, revela viver totalmente o oposto ao aceitar marcações nas redes sociais como forma de pagamento: “Os retornos sempre foram muito pequenos, quase nulos, na verdade. Tivemos pouco engajamento e nenhuma reserva realizada.”
Com o crescimento das redes sociais, é muito comum que os influenciadores digitais fechem parcerias com empresas e efetuem o pagamento com @, ou seja, a “moeda” de troca são “likes”, visibilidade e engajamento nas redes sociais.
Mas esse formato de parceria não garante 100% de retorno, afirma Mauricio Felício, professor de comunicação e publicidade da ESPM. O g1 conversou com o especialista e empreendedores que apontaram 5 pontos importantes para se atentar antes de apostar nesse modelo de divulgação:
Segundo Mauricio Felício, antes de fechar uma parceria, é necessário estudar o perfil e analisar as publicações dos últimos quatro meses. “Uma pessoa muito controversa não passa muito tempo sem um escândalo”, explica.
O ideal é analisar todas as redes sociais e entender se o perfil tem potencial para trazer visibilidade e validação para a empresa. Além disso, segundo o professor, é preciso evitar influenciadores envolvidos em polêmicas, que podem levar comentários negativos para a página.
Também vale observar se os seguidores são reais e ativos, se interagem com as publicações do influenciador, afirma o especialista. O professor ainda destaca a importância de ter como foco perfis que tenham como seguidores o público-alvo da marca.
“Se estou esperando que as pessoas venham diretamente por conta dessa recomendação, quanto mais reações e interações esse influenciador tiver, melhor para o estabelecimento. Isso mostra que essa pessoa é capaz de mover atitudes, percepções e comportamentos”, completa.
Domingos de Mendonça Neto, de 42 anos, é proprietário do Chalet de la Colline, que fica localizado em Bananeiras, na Paraíba, e recebe diariamente pedidos de influenciadores para fechar parcerias. A cidade é conhecida pela baixa temperatura e antigos casarões.
Além da hospedagem, o estabelecimento tem uma grande procura de pessoas interessadas apenas na paisagem para fazer ensaios fotográficos. Por isso, o empreendedor também aluga o espaço somente durante o dia, e o hóspede não precisa dormir no local.
Para fechar parcerias, Neto é cauteloso e analisa bem cada perfil. Ele contou que já fez a troca de serviços com perfis grandes, que renderam mais de 200 mil visualizações para a página do negócio. Porém, isso não trouxe nenhum retorno financeiro.
“Não foi por maldade, mas o público dele [influenciador] não era o público do chalé”, afirma.
Neto também já fechou parceria com influenciadores menores, mais locais, e, na época, recebeu somente 20 mil visualizações. Por outro lado, conseguiu fechar reservas por cerca de três meses seguidos, de clientes que conheceram o local através dos influencers.
O empresário diz que ficou mais atento aos perfis com que fecha parcerias após passar por uma situação no início do negócio, quando ainda estava aprendendo sobre o mercado do marketing de influência.
“Teve uma moça que fazia conteúdo para o Onlyfans, e eu não sabia. Fechamos a parceria, ela foi para lá e fez uns vídeos e fotos para a plataforma. Não deu certo, porque não repercutiu legal”, relembra.
Por isso, o empreendedor começou a receber pedidos de outros influencers que também trabalhavam produzindo conteúdos para Onlyfans. “Muita gente queria ir para lá fazer as mesmas fotos, mas comecei a negar”, conta.
O professor Mauricio Felício também destaca que é importante deixar claro qual será o formato da parceria. Ele orienta fazer um acordo por escrito, assinado por ambas as partes, que detalhe:
➡️ Quantas publicações serão feitas;
➡️ Qual será a frequência de divulgação (diária, semanal, mensal);
➡️ Quais as redes sociais em que os posts serão compartilhados;
➡️ Em qual formato será feito – stories, reels, post estático no feed, entre outros.
➡️ A possibilidade de publicação em collab (em colaboração entre dois ou mais perfis do Instagram).
O estabelecimento também precisa deixar claro o que será entregue. “Eu posso dar uma refeição para duas pessoas, além de qualquer bebida do cardápio, mas não posso fazer um menu de degustação, por exemplo. É importante impor limites”, afirma o professor.
É o caso de Milane Veras, de 31 anos, de Mauá, São Paulo. A empreendedora, que trabalha com decorações de festas há cerca de sete anos, fecha parceria com influenciadoras de dois modos: total ou parcial.
“Eu sempre trabalho de duas formas: com a parceria 100%, na qual eu arco com tudo, ou a parcial, que é quando a pessoa paga pelos custos de material e locomoção. Para diferenciar qual vou fechar, eu analiso bem o perfil”, explica Milane.
unto com a mãe, Maria José Carvalho, a empreendedora criou a loja de decoração MBG festas. Para se tornar conhecida na região em que atende, inicialmente, Milane fechava parceria com todos os influenciadores que a procuravam.
Atualmente, com mais habilidades e experiência na área, Milane tem como foco visibilidade e portfólio na hora de fechar as parcerias. A empreendedora foi uma das decoradoras responsáveis pela festa de um ano da pequena Lua, filha dos ex-BBBs Viih Tube e Eliezer.
“Hoje em dia eu só fecho parceria quando eu não tenho portfólio do tema [da festa], ou alguma coisa específica. Se é algo que eu já fiz um milhão de vezes, não tem muita coisa para inovar, e a pessoa não quer bancar os custos, eu acabo recusando”, afirma.
É importante entender que o marketing de influência não garante 100% de retorno, que pode ser medido por aumento de seguidores, número de visualizações em uma publicação ou financeiro (clientes vão até o estabelecimento por indicação do influencer e compram).
“A única coisa garantida é o que o estabelecimento e os influenciadores vão entregar”, afirma o especialista. Por isso, antes de fechar a parceria, é importante analisar se vale a pena ou não o investimento. Segundo o professor Mauricio, o empreendedor precisa:
Esse último exemplo é o caso de Suzana Stevens, de 46 anos, proprietária da Amagali Pousada, que fica localizada em Galinhos, no Rio Grande do Norte. A empreendedora, que já trabalhou com parcerias, desistiu desse formato por não ter o retorno esperado.
Suzana administra a pousada junto com o marido, o francês François Stevens. Hoje, eles preferem investir em outros formatos de divulgação que trazem mais retorno para o negócio, como anúncios pagos no Google, Instagram e Facebook, além de parceria com agências de viagens.
Mesmo não fechando nenhum tipo de parceria, o casal ainda recebe pedidos via Instagram por parte dos influenciadores. “Alguns não trabalham no nicho de turismo e viagens, são nichos completamente diferentes, que a gente vê que não vale a pena fazer o investimento”, afirma.
Segundo a empreendedora, a maioria dos influenciadores não querem pagar nada. “Eles só fazem as publicações e não têm custo nenhum, a gente que fica no prejuízo. Alguns querem tudo, não só a hospedagem. Querem alimentação, os passeios, e acabam fazendo toda viagem de graça”, completa.
Outro alerta importante é a competição com outros empreendedores. Em alguns casos, os influenciadores fecham parcerias com mais de uma empresa ao mesmo tempo e a atenção dos seguidores precisa ser disputada.
Um exemplo muito comum acontece em festas: ás vezes os criadores de conteúdos fecham parcerias com empreendedores do mesmo nicho, mas que fazem coisas diferentes. O influencer divulga todos os negócios, mas os seguidores não clicam em todos.
“Uma coisa é a Viih Tube, que tem 33 milhões de seguidores. É diferente com alguém que tem cinco mil seguidores, se 1% tem interesse é 50 pessoas. Isso é muito pouco para fazer um investimento tão grande”, afirma o especialista.
Por isso, o professor Mauricio Felício avalia que não compensa o investimento nesses casos. O ideal é buscar uma parceria exclusiva, com formas de aproveitar bem o conteúdo que for produzido em favor da própria marca.
“Às vezes, o empreendedor não pergunta antes, e o influenciador pode ter fechado parcerias com outras 10 marcas. Além do investimento, é necessário competir pela atenção dos seguidores com outras nove empresas. Não faz sentido”, afirma.
Marcelo Oliveira, de 25 anos, é maquiador em Santarém, no Pará, e tem uma parceria exclusiva com Valentina Coimbra, a sinhazinha do boi garantido, do Festival de Parintins (AM). Com a influenciadora e modelo, a troca de serviço é 100%.
“Eu faço a maquiagem nela, a gente produz vídeos para as redes sociais, e ela faz a divulgação do meu serviço”, explica Marcelo. Nesse formato, Valentina não pode fazer parcerias com outros maquiadores de Santarém, apenas se for fora da cidade.
Segundo Marcelo, o retorno não é apenas de engajamento nas redes, mas também financeiro por levar clientes para o estabelecimento.
“Aqui é uma cidade onde as pessoas querem se maquiar para tudo, então tem essa facilidade. O pessoal vê que ela se maquiou comigo e segue muito isso. Eu já recebo mensagem assim: ‘Oi, vi que você fez a maquiagem de fulano, quero marcar’”, explica.